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domingo, 28 de fevereiro de 2010

A suave subversão da velhice

Edição 188 24/12/2001 

O mundo de grandes solidões e pequenas delicadezas de uma casa de velhos

Rosa Bela Ohanian, de 89 anos

Viúva, sem filhos, até oito meses atrás ela morava sozinha num casarão em Copacabana. Foi colocada na instituição pelos sobrinhos. Nasceu em Nova York, morou na Dinamarca, foi funcionária diplomática em Washington. Canta e toca piano. Sente falta de novidades e conversas. Emerge apenas de tempos em tempos do quarto e da melancolia. Então canta
De repente eles chegaram lá, ao portão de ferro da Casa São Luiz para a Velhice. A vida inteira espremida numa mala de mão. Deixaram para trás a longa teia de delicadezas, as décadas todas de embate entre anseio e possibilidade. A família, os móveis, a vizinhança, as ranhuras das paredes, um copo na pia, o desenho do corpo no colchão. Reduzidos a um único tempo verbal, o pretérito, com suspeito presente e um futuro que ninguém quer.
Eles também pensaram que a velhice era destino de terceiros. Jamais suspeitaram que estariam nessa situação. Lançados numa casa que não é a sua, entre móveis estranhos, faces que não reconhecem, lembranças que não se encaixam. Não foi assim com seus pais e avós. Atropelados pelo bonde da modernidade em que a juventude é um valor em si, foram deixados na porta porque outros decidiram que o tempo deles acabou.
“Nem quis me despedir de minha casa”, conta Sandra Carvalho. “Só pedi a meu filho que me trouxesse a estante com os bibelôs, um sofá, a cadeira de braço, uma mesa e meus retratos. E, desde então, vivo com o que sobrou.” Sandra veio com o marido doente. Ele morreu há oito meses. Sandra ficou. Os netos cresceram nos retratos, os olhos dos filhos conquistaram novas nuances, a casa foi alugada para outro. Até a cidade ganhou e perdeu. Sandra não viu.
Há algo de trágico no portão de ferro da Casa São Luiz. Melhor que a maioria, a instituição é limpa, decente e cheia de mimos. Igual a todas, é a última estação do trem, abrigo inventado para esconder os que não têm outro lugar, sobrevivem na brecha criada pelo avanço da medicina e pelas aflições da vida moderna. Também a casa uma anciã, completou 111 anos de existência desenrolados no bairro carioca do Caju, o mesmo do cemitério, destino final de todos que estão ali.

Sandra Carvalho, de 80 anos

Ela descobriu-se só, entre as sobras do lar que perdeu, a saudade do marido que partiu oito meses atrás e as fotografias da família. Foi colocada na casa pelo filho com melhor situação econômica. Queria viver com ele nos Estados Unidos. Não dá. Sandra diz que se apagou
O Visconde Ferreira D’Almeida, fundador de fé fervorosa, segue cada passo no caminho de árvores rumo ao coração do lugar. Seu olhar de bronze é onipresente na vigília dos 257 velhos que compartilham uma cidadela dividida em seis torres batizadas com nomes de santos ou de famílias quatrocentonas do Rio de Janeiro que no passado fizeram polpudas doações para garantir uma vaga no céu.
Apesar da solidez da estátua do fundador, a instituição mudou com o tempo. Nasceu antes da invenção da aposentadoria, para abrigar os operários das fábricas de tecido do aristocrata quando já não tivessem forças para mover as máquinas. Um século depois, é habitada por doutores e comerciantes, empresários e intelectuais. Gente de classe média e também de sobrenome ilustre, capaz de pagar uma suíte particular. Restaram 54 paridos pelo berço original de desvalidos. Operários, empregados do comércio, costureiras, lavadeiras, domésticas que descansam o corpo em camas gratuitas de dormitórios arejados, mas coletivos. Como lá fora, entre os pobres e os ricos há uma longa escadaria, o poder inversamente proporcional ao número de camas que abrigam sono e sobressaltos.
Sandra Carvalho, mãe de três filhos, avó de seis netos e bisavó de dois bisnetos, tem a sorte de um quarto só seu. Do contrário, teria apenas um armário para guardar 80 anos de vida. Chegou ao portão pelas mãos do filho do meio. Queria morar com ele nos Estados Unidos. Não dá. “Seria muito complicado”, convence-se. “Queria ser cantora, fui costureira. Minha vida foi sempre tão cheia de controvérsias...” Acaricia o sorriso dos retratos do álbum de casamento, murmura: “Eu me apaguei aqui. É, me apaguei”.
Sandra, como todos, é vítima da brutalidade de um tempo em mutação. Os passos lentos demais para a velocidade de um mundo que não perdoa quedas. Os velhos perderam afeto, amizade e calor, ganharam tempo. Vivem mais e melhor que seus pais e avós. Vivem mais sós. A morte social chega antes da derradeira batida do coração. Tornaram-se provas inoportunas de que a sociedade que os deixou no portão pisa em terreno pantanoso. Decidem na soleira que querem viver. E o fazem da forma possível, até porque têm idade suficiente para compreender que o possível não é pouco.

Paulo Serrado Filho, de 71 anos

Ele foi boêmio. Um acidente de carro lhe causou danos permanentes nas duas pernas. Depois, teve um enfarte. Solteiro e sem filhos, não faz questão de ser maduro. Hospedou-se na casa há três anos porque tem medo de estar lá fora. Tem fantasias sexuais com Cyd Charisse
No lugar em que foram apartados do tempo, do mundo, da família, reeditam diariamente resistência e insurreição. Desejam. Um sabor diferente no cardápio, a fantasia sexual com a musa hoje mais velha que eles, o jornal do dia seguinte. Enquanto desejarem, ainda que apartados do mundo, estarão vivos. Encarquilhados, vacilantes, são a lembrança incômoda não do passado, mas do futuro de todos. Se a velhice de hoje é aniquilada, a de amanhã já nasce morta. Porque viver, para além das conquistas da ciência, é mais que respirar.
Aos 74 anos, a comerciante portuguesa Fermelinda Paes Campos cumpre o ritual de rebeldia vestindo-se para festa todos os dias. Cobre-se de pérolas, de tecidos vaporosos. “Esses hormônios não me deixam. Estou explodindo”, confidencia. Preso a uma cadeira de rodas, aos 71 anos, o jornalista Paulo Serrado sonha que cavalga águias sobre as montanhas. “Acordo com cara de tacho, mas tudo bem.” Sem poder mais dançar, ele, que foi apelidado de Fred Astaire na boemia de Copacabana, abraça-se ao retrato de Cyd Charisse e rodopia em fantasias. Rosa Bela Ohanian, de 89 anos, morou na Europa e nos Estados Unidos, foi funcionária diplomática em Washington, fala quatro línguas. Emerge da melancolia para entoar uma canção de amor em dinamarquês. “Amo por toda a vida, não por um segundo.”
Nos últimos passos, a vida torna-se um filme em que se desejaria acrescentar personagens, eliminar cenas, avivar as cores da fotografia. Trocar a trilha de música de elevador por um heavy metal. Ou pela “Cavalgada das Valquírias”, um tango de Piazzolla. Aos 86 anos, o mestre-de-obras Guilherme Coelho prefere viver de arrependimento. Lamenta a carne com que se lambuzou na mocidade, todo ele transformado em espírito, a Bíblia ao alcance da mão. Por seis meses ficou tetraplégico, à mercê de fraldas e enfermeiras, a mente presa ao corpo. Nunca esquecerá o pavor da impotência, a enfermeira do hospital que atirou um telefone contra seu corpo paralisado. Quando o dedão do pé mexeu o lençol, Guilherme concluiu que era um milagre. Deus lhe havia concedido tempo para preparar-se para a morte. Guilherme decidiu a canção de seus derradeiros dias.


Maria Prado, de 101 anos

É a mais velha. Viúva, sem filhos, formou-se em farmácia, trabalhou no Ministério da Educação. Na casa há seis anos, por decisão da sobrinha, já gostaria de morrer. O grande prazer é ler o jornal do dia

A expulsão do mundo

Noêmia Atela veio para não ficar. Reedita todos os dias o compromisso com a resistência. Resumiu a vida aos 30 passos que separam a porta do apartamento do banco no fim do corredor. Senta-se lá, posicionada entre o elevador e o telefone. Por um ou por outro espera chegar a alforria dos filhos. Revela sempre o mesmo segredo: “Na semana que vem vou embora”.
“Lá fora” é como batizaram o mundo que ficou, quando na verdade ficaram eles. Uma terra onde já estiveram e não mais estarão. Vieram, quase todos, sem escolha. Primeiro perderam o marido ou a esposa, depois era o lar que já não conseguiam administrar, em seguida o apartamento dos filhos que se tornava apertado, por fim o mundo inteiro transformava-se numa placa gigante de entrada proibida. Ficavam sem lugar. Restava a casa.
A maioria tem a porta de saída vetada. Só saem com autorização. Quem decide o ir-e-vir são os parentes ou os médicos. Podem se perder, ser atropelados, roubados. Para além do portão tudo vira risco. Mesmo para quem tem permissão, lentamente o desejo de ver a cidade vai morrendo, se extinguindo aos poucos. Até romperem por completo o cordão umbilical. E a casa vira o próprio mundo, as paredes impregnadas de uma segurança implacável. “Eu às vezes penso em ir lá fora. Mas o que faço lá fora velho?”, indaga Guilherme. “Só me sinto seguro aqui dentro.”
Da primeira vez, Paulo ficou apenas um mês. Solteirão empedernido, vivia no apartamento próprio em Copacabana, auxiliado por acompanhantes desde que um acidente imobilizou as pernas e um enfarte atropelou o coração. Quando uma irmã decidiu passar um mês na Europa, pediu a Paulo que se transferisse para a casa. “Só para que eu fique tranqüila”, disse. Paulo atendeu-a. Depois voltou para Copacabana. “Então me dei conta. Eu estava andando com minha bengala e vi um vulto enorme saltar por cima do balcão do café. Era um doberman”, conta. “Quando estou voltando para o apartamento, a desgraçada de uma dona-de-casa batia papo com a comadre e ao lado o doberman sem coleira. No outro dia, havia um doberman e um pit bull. Pensei: se esses vigaristas vierem para cima de mim, o que faço?”
Ligou para a loja de armas disposto a comprar uma pistola para se defender. “Aí me lembrei de meu avô. Ele falava que eu era muito esquentado para ter arma”, conta. “Distribuí os quadros, o liquidificador, a máquina de lavar roupas, aluguei o apartamento e voltei para cá. Tive de aceitar minha impotência. Não tenho mais competência física para andar lá fora.”

CÚMPLICES Fermelinda (à esq.) confidencia com a amiga
Se o mundo é perigoso para todos, para os velhos torna-se prenhe de armadilhas. Cada buraco na calçada pode ser fatal, cada degrau a mais a escalada da bengala para a cadeira de rodas. Os pés cansados não são mais capazes de alcançar o ônibus onde o motorista bufa de impaciência “com esses velhos que não pagam e ainda atrasam a gente”. As pernas não obedecem ao comando da adrenalina diante das crianças que os tornaram alvo preferencial dos assaltos no confronto entre dois vencidos, a infância abandonada e a velhice desvalida. É assim que vão sendo expulsos.
O que mais temem não é morrer, mas cair. “Descobri que estou numa ilha cercada de mar por todos os lados”, resume Fermelinda. “Lá fora me sinto um passarinho voando. Mas isso era quando eu tinha 20 anos. Agora, se voar posso levar um tombo.” Quem perambula pela casa como se estivesse numa cidadela medieval teme o 2o andar do Pavilhão São Joaquim mais que o Juízo Final. “Você já foi lá?”, pergunta Fermelinda. “Melhor não ir. Se fizer questão, tudo bem. Mas não me chame.”
No 2º andar estão os que caíram e nunca mais se levantaram. Longas enfermarias onde se chega a torcer para a demência poupá-los da realidade. Restos humanos que deixam cair a comida da boca, fazem gestos do passado que perderam o sentido, chamam pelos que partiram. O 2o andar do São Joaquim eleva-se como um purgatório de alma viva, entreposto entre a instituição e o cemitério. Tão terrível que os moradores fingem desconhecê-lo. Tanto quanto se pode ignorar a nuvem escura que precede a tormenta.
Rosa Pimentel caiu. Do 3º para o 2º andar do São Joaquim. Um andar apenas, o despenhadeiro. Só mexe os braços, a Rosa. Mas tem boca. E aos 88 anos não se cansou de reinventar a vida. Deitada numa das camas do dormitório dos que perderam quase tudo, inclusive o juízo, Rosa mantém-se na superfície rimando. Emenda um verso no outro, liberta-se. “Não sei como acontece, porque nunca tive um livro de poesias”, espanta-se. “Simplesmente elas vêm em meu pensamento.”
Sem amor nem dinheiro, sequer parentes, agora também sem movimento, Rosa transformou a vida em versos. “Nasci em 18 de outubro de 1913, num dia de sábado, às 4h20 da tarde, na Rua das Laranjeiras, 57, telefone 357.” Vai misturando a infância e as rimas: “Hoje não sou ninguém, sou apenas de quem me quer bem. A maior quinta em Portugal era de meu pai. Ainda lembro das vacas Formosa, Ferreira, Fidalga, Bonita... e do cachorro branco com rodelas amarelas de nome Diamante”.
Estende os braços, a Rosa, ciente de que ficará viva enquanto conseguir encaixar uma rima na outra, afinal não é assim mesmo, um verso triste num alegre, uma perda num ganho, um dia depois do outro?


Robert Regard, de 62 anos

Depois de uma carreira no halterofilismo europeu, ele desembarcou no Brasil, onde foi proprietário e gerente de supermercados. Ficou sem teto quando o segundo casamento acabou. Tem cinco filhos franceses e uma brasileira. Na casa há quatro meses, tornou-se o galã que faz bater mais forte corações já claudicantes
O tempo das mentiras

A travessia do portão de ferro se inicia com a lenda de que os velhos precisam descansar. “A mentira é também um estado de satisfação”, explica Vicente Amorim. Aos 97 anos, com credencial de pai de embaixador, o ex-ministro Celso Amorim, ele lê quase um livro por dia para dialogar com personagens que lhe trazem notícias, compartilham suas dores, lhe falam de prazeres perdidos. “No dia em que passei a procuração para minha filha, assinei a abdicação de minha personalidade. Primeiro, veio a euforia. Depois, caí em mim”, conta. “Não ia mais me preocupar com o banco, saber se minha conta estava no azul ou no vermelho. Nessa hora perdi a independência. E não perdi o juízo.”
É esse o cárcere do homem sentado sempre no mesmo banco da casa, protegido pelas asas de um anjo, lugar tão cativo que, ao aproximar-se com sua cadeira de rodas, quem lá o estiver usurpando imediatamente se levanta. “Nunca imaginei que estaria aqui. Clinicamente não sinto dor alguma, mas sinto uma angústia que não sei explicar, que não tenho palavras para pôr num dedo.”

Mundo de velhos
Com 111 anos, a Casa São Luiz para a Velhice abriga 257 moradores. De empregadas domésticas a profissionais liberais. A maioria raramente sai de seus muros. Alguns porque não têm para onde ir. Outros porque têm medo da vida lá fora
Na gruta, plantada num jardim com pássaros, fonte e estátuas, os moradores aplacam seus dilemas conversando com Deus


A capela é uma obra de arte, cenário de casamentos ilustres e de novelas de TV. Há azulejos e rendas da Bélgica, altar em mármore, imagens da França. São Luiz, monarca francês, foi o primeiro a se preocupar com os velhos

A biblioteca é o coração da casa. Nela acontecem as festas, os saraus, as reuniões da ouvidoria e os encontros para debater o mundo que ficou
Como Vicente, descansar é tudo o que os velhos não querem. Quem desejaria com a eternidade espreitando logo ali, na próxima curva? A palavra asilo tornou-se cruel demais para os tempos politicamente corretos. Inventaram a casa de repouso, eufemismo travestido de desvelo para abrigar velhinhos cansados da vida, quando foi o mundo que se cansou deles. “Se quando eu era jovem alguém tivesse me falado que eu estaria aqui, diria que o sujeito era maluco”, revolta-se Paulo. “Terceira idade o cacete, pô!”
Rosa Bela ergue-se do banco, as mãos crispadas como um personagem de tragédia, para dizer que não quer sossego. “O que está faltando é aquele entusiasmo de gente jovem incentivando os velhos a se animar. Não deixar os velhos sentados só olhando, como se participassem de uma história antiga. Não é uma história antiga. É real.”
Povoada por mais de 20 mil anos de vida, somado tudo, a casa respira, transpira, parece que se mexe. Desde a fundação a administração foi passando de herdeiro a herdeiro por cláusula testamentária até chegar à embaixatriz Regina Bittencourt, uma grande dama de quase 80 anos, do tipo amamentado em francês e desmamado em incursões pelo mundo. Dona Regina é herdeira de duas instituições em extinção: a aristocracia e a caridade. Modernizou a casa abrindo as portas para os pagantes, já que as doações foram se extinguindo junto com as grandes fortunas. Seguiu com a tradição familiar, a filha e um neto já destinados a garantir a continuidade.
Cada fonte ou canteiro da instituição tem nome, e um nome enorme. Insólito cenário para descobrir que uma das curiosas vantagens da velhice é a extirpação de um tumor das relações humanas: a hipocrisia. Mesmo quando flagrados pelas armadilhas do cérebro cansado, os moradores exibem uma objetividade de lâmina. “Eu não gosto de que me chamem de idosa. Sou velha mesmo!”, diz a funcionária pública Maria Prado. Aos 101 anos, ela dispensou autocomiseração e cinismo: “Onde você já viu velha bonita? Pode ser triste, conformada ou alegre. Alegre mesmo penso que não tem nenhuma. Há as conformadas e as menos conformadas. Mas bonita nenhuma”.
Chegaram à idade em que todo fingimento é descartável como um apêndice. Talvez por isso seja tão importante permanecerem trancados lá dentro. Todo fim de mês a casa faz uma festa para os aniversariantes. O evento é patrocinado por socialites cariocas em suas missões de caridade. Há alguns anos, elas traziam personalidades para fazer shows. Com o tempo, desistiram. Uma das vítimas foi Pelé. A emergente Kiki Garavaglia, de 54 anos, morre de rir ao contar que o rei cantou uma musiquinha para os moradores. Indiferente à majestade que deu a honra da graça, uma das velhas gritava: “Canta outra coisa. Mas tá muito ruim”.

ESPETÁCULO Socialites cariocas espantam quem já viu quase tudo
Essas festas mensais produzem cenas implacáveis. Aos 61 anos, com corpinho de 41, Gisela Amaral irrompe vestida de mostarda da cabeça aos pés, com Bombom e Banana a tiracolo. Bombom é o motorista e Banana o cachorrinho. Anunciada pelo microfone: “Gisela Amaral, diretamente de Nova York. Olha o sapatinho da Gisela combinando com a roupa”. E Gisela mostra o sapatinho. Os velhos ficam boquiabertos. Viveram para ver isso. 

O duelo dos sexos

Noêmia viveu 86 anos para constatar mais uma duvidosa conquista das mulheres: a velhice é feminina. “O que não tem aqui é homem”, informa. “Quando aparece um é uma alegria.” Na casa, há três mulheres para cada homem. Se elas são mais longevas, parecem condenadas à solidão, numa subtração matemática que piora a cada ano. Mais que a estatística, o que impede o amor do outono é o descompasso que abalroa as relações durante todas as fases da vida. Depois de velhos, eles têm o desplante de continuar se levando a sério. Não fosse por esse detalhe atávico da personalidade masculina é provável que irrompesse luxuriante primavera naquele miolo de mundo. “É ridículo namorar nesta idade”, sentencia Guilherme. “Não gosto de papadas”, desdenha Paulo. “Nem de múmias.”
A verdade é que os valores – e as pessoas – não mudam com a idade. Inclusive os chatos. Seguem chatos até os últimos dias. Ninguém fica mais bonzinho por tornar-se velhinho, assim, no diminutivo. E as manias ficam ainda mais acentuadas, para o bem e para o mal. Cortejando um século de vida os homens continuam desejando não duas de 20, pelo menos duas de 40.
As mulheres, não. Ainda que os pés não andem com a mesma firmeza, seguem com eles plantados no assoalho. Práticas na velhice como o foram na juventude. “Estou apaixonada. Sinto que ele fica nervoso quando me vê”, desmancha-se Fermelinda. “Meu sonho é um dia dividirmos uma suíte aqui na casa.” Depois de surpreender o marido na cama com a empregada muitos anos atrás, Fermelinda tornou-se a encarnação da ansiedade. Foi instalada na casa para não definhar, arrumando e desarrumando a cama várias vezes por dia quando tudo o que queria era fazer o mesmo, mas bem acompanhada. Insone pelas alergias que lhe cobrem o corpo como compensação pela falta de carícias.
Enquanto o amado do momento permanece distante como o Cristo Redentor, o Rio de Janeiro de Fermelinda tem sempre 40 graus. “Não existe mulher frouxa nem fria. Sabe o que é mulher fria? É ela não ter inteligência para o amor”, ensina. “E o homem nunca morre. Basta ter uma mulher que saiba prepará-lo.”


Gabriela Svozil e Adyr Bueno, de 68 anos

Ela dona-de-casa, viúva, não conta a idade. Ele é bancário e solteiro. Ambos sem filhos. Chegaram à casa levados por parentes, ela há sete anos, ele há oito. Encontraram-se. Desafiam preconceitos e vivem um romance em dormitórios separados
O termômetro da casa elevou-se perigosamente há quatro meses, quando o francês Robert Regard despontou no portão a bordo de um ainda respeitável ramalhete de músculos. Aos 62 anos, um baby para os padrões locais, cuja média se situa em torno dos 85 anos, ele se achou sem teto depois do epílogo do romance com uma brasileira. Ultrapassou o pórtico um pouco assustado, mas logo descobriu que não havia pomada melhor para os arranhões da auto-estima. Plantou-se no pátio de calção e camiseta cavada. A cada bíceps que pulava nos braços um coração feminino completava um salto triplo. Ainda por cima, todos os peitorais vinham com sotaque. “As mulheres adoram quando eu falo francês”, assinala.
O galã da casa foi coroado Mister França em 1967. Fez carreira no halterofilismo europeu. Aos 37 anos, deixou a mulher e cinco filhos e veio se aventurar no Brasil. Abriu dois supermercados, faliu, foi gerente de outros tantos, acabou sem nada, exceto por uma filha brasileira e um amor incondicional pela pátria adotiva. Estufa todo com o clamor que provoca, mas nem sequer cogita a possibilidade de um affaire com uma das companheiras de exílio. “São minhas amigas”, esclarece. “Sempre tive moças mais novas correndo atrás de mim. Eu me vejo ao lado de uma mulher de 40, 45 anos. Por isso me cuido e estou inteiro.”
Sempre mais pragmáticas, as mulheres. Não é à toa que vivem mais. Sem par nos bailes da casa, evolucionam pelo salão com as amigas, as enfermeiras, as acompanhantes. A maioria vem de uma geração em que o mundo feminino era circunscrito aos lares, e esse estágio de uma existência inteira as ensinou a viver entre paredes. De certa forma, perderam um pouco menos e um pouco mais, na medida em que não sofrem pelo que não conheceram.
Eles, não. Seu mundo era o de fora, donos de todas as ruas, no controle de cada passo. Postam-se carrancudos, temerosos “de dar vexame”, recusando-se a esgrimir com as pernas que têm. Suportam menos as limitações da velhice, dependentes das moças muito mais jovens que estão ali não por sua capacidade de sedução, mas para trocar-lhes as fraldas. Mais assolados pelos ventos da depressão, os homens definham enquanto elas tocam gaita, piano, fazem versos. “Não há vantagem nenhuma em chegar a essa idade imprestável, dependendo dos outros até para tomar banho”, desabafa o dentista Fernando Ferreira, de 84 anos.
Na sacada, Noêmia tomou a decisão de só ouvir o que quer. “Ainda bem que sou surda”, dispara. Subitamente se ilumina. Diante dela desenrolam-se cenas de sexo explícito. Desta vez, Noêmia escuta muito bem. Solidária, chama a vizinha: “Corre aqui! Vamos ver os gatos cruzando no telhado”. 

Amores possíveis e impossíveis

O amor de velhos é encabulado. Trazem da rua suas vergonhas e lá dentro eles viram cimento. Adyr Galvão Bueno e Gabriela Svozil tecem há anos um romance de sussurros, temerosos de ofender o pequeno mundo em que vivem de caridade. Repetem suas cenas, lado a lado no banco, quase pedindo desculpas, sem coragem de pegar na mão, matando o beijo antes que aconteça. Mesmo assim, alguém sempre aponta um dedo artrítico não pela idade, mas pela estreiteza: “Ridículos”.
Só eles adivinham beleza na forma trágica pela qual se conheceram, ela caída sobre a mesa do café, o estômago embrulhado. Ele tão magro que de perfil e de frente quase não há diferença, carregando-a para uma das camas do dormitório. Desde então são vistos sempre juntos, sempre tímidos. Ela viúva de um homem que falava pouco, ele à espera de uma noiva que viajou para a Bélgica décadas atrás e jamais voltou. Não escapam da casa para passeios porque Gabriela só pode empreender fugas de poucos passos. Nem Adyr lhe dá flores porque não é permitido arrancá-las dos canteiros.
Jamais compartilharão uma cama, falta-lhes o dinheiro para pagar uma suíte particular. Ao entardecer, quando toda a população da cidade de velhos se recolhe, Adyr e Gabriela vivem os momentos mais íntimos do romance. Vão dormir afogueados, temerosos de ser expulsos, como crianças de colégio interno experimentando brincadeiras proibidas. Da varanda do dormitório masculino, aos 68 anos, Adyr sacode uma toalha para que os olhos de Gabriela o adivinhem na derradeira despedida.
Manoel Matias pensa em sua Maria Socorro em outra cama do pavilhão. Preencheram a ficha de ingresso na casa, anos atrás. Registraram, singelamente: “Pela primeira vez vamos dormir separados”. Fizeram questão de acrescentar no documento: “Permaneceremos sempre juntos na perspectiva de uma vida feliz”. E despediram-se, na porta cada qual de seu dormitório, depois de 60 anos de casados em que, abraçados na cama capenga, dividiram a dor dos filhos que não vieram, do negócio próprio que nunca se realizou, das mãos de Maria se acabando nas panelas da casa do patrão, das desditas de Manoel no balcão de outro dono.
A cada manhã, Manoel e Maria voltavam a se unir. Ele com 86 anos, ela aos 94. Gastavam os dias agarrados um no outro para compensar a solidão da noite. De repente ela adoeceu, não mais apareceu no jardim. Manoel então acordava e, alinhado e cheiroso, visitava sua Maria. Ela, cada vez mais calada, foi ficando fora de seu alcance. Mesmo assim ele não esmoreceu. “Eu sempre deixei que ela decidisse tudo”, explica. “Foi amor à primeira vista.”
Manoel segue visitando sua Maria. Ela partiu no mês de maio. Manoel é realista em todo o resto, menos para a morte de Maria. Para ela se banha, penteia os cabelos de polvilho. Para ele, Maria é sempre linda como no primeiro encontro. Sempre que Manoel senta na biblioteca, procura um lugar onde bem ao lado se ofereça uma cadeira de balanço vaga.
Aos 87 anos, Joaquim Cysneiros Vianna vai todos os dias dar um beijo em Aurea. E todos os dias Aurea constata que Joaquim foi embora há muito. Advogados, ele e ela. Brilhante, Joaquim. Aurea, independente quando as mulheres recém-pressentiam a liberdade. Uma vida construída em manifestações de protesto, viagens à Europa, um cotidiano de leituras e longas conversas. Há sete anos Joaquim começou a partir devagar. O homem com quem compartilhou a vida fora seqüestrado pelo mal de Alzheimer. Logo a estrela dos tribunais era um menino, sem modos à mesa, escapando do banho, fugindo de casa.
“Reage”, cansou-se de gritar Aurea. Ele já não a ouvia. Foi o primeiro a chegar à casa. Há um ano veio Aurea, as pernas robotizadas pela artrose. Recusou-se a ficar no mesmo apartamento que o marido. “Ele não está mais aqui, está preso em si próprio. Não vive, vegeta. Transformou-se em outra coisa e é muito duro vê-lo assim”, diz. “Tudo o que ele faz é me dar um beijo e dizer ‘é’, a única palavra que sobrou.”
Aos 88 anos, Aurea sobrevive pela desistência do verbo querer. “Gostaria de ficar com minha filha, mas entre querer e poder há uma distância”, conta. “Para não me decepcionar procuro não desejar nada. Aprendi isso aqui. Aceitei. A pessoa que vive aprende vivendo.”
Agora é outra a mulher que cuida de Joaquim, a acompanhante Maria José Ferreira, que aos 46 anos passou a temer a velhice anunciada. Passa creme na pele de Joaquim menos por salário mais por afeto, combina as roupas, obriga-o a participar da agitada rotina de atividades da casa, mesmo que seja só com o corpo, para não ir embora de vez. Todos os dias a filha Angela liga, sempre às 13 horas, para obrigar o pai a falar. Ainda que seja só para ouvir uma seqüência de “é”.
Aos 59 anos, ela é uma raridade na casa em que as visitas são mais ausentes do que os moradores desejariam. Solteira, um filho adulto, a educadora Angela surge no portão duas vezes por semana e a cada aparição faz a alegria do andar inteiro com quitutes de sua cozinha. Quando o pai e a mãe começaram a definhar, primeiro foram morar com ela. As dificuldades foram tantas e tão terríveis que precisou abandonar o emprego na universidade. “Fiquei com um complexo de culpa miserável quando tive de trazer meu pai para cá. Só mais tarde fui percebendo que não tinha outro jeito”, conta. “Depois veio minha mãe, também já não havia maneira de dividirmos o mesmo espaço. Ela sempre foi independente e autoritária, tinha perdido a casa, o marido e a vida e estava me deixando maluca. O médico falou que, se eu não tomasse uma decisão, quem acabaria se terminando era eu.”

Laurentina de Jesus, de 84 anos

Seu sonho era morar num asilo. Por toda a vida trabalhou sem salário. Analfabeta, nunca votou. Sem chance de amar, manteve-se virgem. Há 18 anos, quando entrou na casa, libertou-se


Pobres e ricos
SEPARADOS O mal de Alzheimer exilou Joaquim de Aurea  
Na casa, Aurea e Joaquim aprenderam a seguir um tempo regido por outra lógica. Os ponteiros do relógio obedecem ao ritmo das refeições. Marcam o café da manhã às 7h30, o lanche às 10 horas, o almoço ao meio-dia, o outro lanche às 14h30, a sopa ou o mingau às 17 horas. Já houve um refeitório para todos, mas logo se descobriu a impossibilidade de colocar ricos e pobres à mesma mesa. Cedo os aquinhoados se irritaram com a falta de etiqueta dos que estavam felizes por ter comida no prato. O refeitório acabou fechado e as refeições passaram a ser servidas nos nichos que cabem a cada classe. Os pagantes alimentam-se na solidão dos quartos. Os gratuitos, em pequenas mesas na varanda.
A velhice rica é mais doída, porque feita exclusivamente de perdas. Tudo escapa das mãos, principalmente poder e escolha, do cardápio ao lugar em que estão. Impotentes para eleger com quem dividir dilemas e convívio. Humilhados na dependência de estranhos até para tomar banho. A velhice pobre pode ser recompensa. Mais feliz e mais triste porque não conheceram o que poderiam perder. Forjados na luta pelo básico, sem tempo para o desejo, para eles manter-se vivo já é muito. Levam para o portão uma mala com menos roupas e mais capacidade de reinvenção.
É o que ensina a costureira Rossi Rodrigues. Ela descobriu que se aceitasse o mundo dos vivos acabaria partindo para o dos mortos, fatalidade cuja possibilidade lhe parece de muito mau gosto. “Eu, hein!”, diz ela, com uma careta. Veio há 17 anos porque não é mulher de morar com filho, se meter no canto de nora. Usa a casa como se fosse um hotel. Aos 72 anos, compositora de música brega, o que Rossi gosta mesmo é de remendar o mundo. Realiza na velhice o sonho da mocidade, tornou-se respeitada dentro e fora da casa. Bem informada o suficiente para lembrar aos ricos, na rispidez de combates inevitáveis, que, se não fossem os pobres, a casa perderia a filantropia. E com ela a isenção de impostos.
Participa das pastorais da saúde, dos presidiários e de mais quantas puder. Esteve na Candelária, na Santa Genoveva, no Fórum Social Mundial. Em Brasília mais de uma vez. E, assim, não se cansa de assombrar a casa com uma coleção de camisetas, a mais chamativa delas com as letras do MST. “Eu vim para cá para viver, não para morrer”, discursa. Olha-se no espelho, confere as rugas, apalpa uma por uma para ter certeza de que estão todas no lugar: “Adoro estas minhas rugas. Cada uma um filho, um neto, a minha vida”.
Quem vê a devota de Santa Edwiges na missa, joelhos esfolando-se no chão, nem desconfia o que se passa no interior daqueles cabelos salpicados de neve. Suave como uma pimenta-do-reino, ela dá uma agitada ”na companheirada”. “Embora dar uma volta”, chama. Empunha a bolsa, sempre atrasada para o mundo lá fora. “Se fosse uma gatinha você parava, né?”, xinga o motorista do ônibus que a ignora no ponto. “Não tem mãe não, meu filho? Não vai ficar velho não?” E já saca a caderneta para anotar a placa.
Deixa Santinha e Sebastiana, as companheiras de quarto, a rezar seus terços. Aos 92 anos, Santinha nem liga. Era Dulcelina Maria Corrêa 78 anos atrás, quando entrou na casa para engomar camisas. Tinha 14 anos, ainda brincava de roda. Aconteceu de ficar ali a vida toda, dentro daqueles muros, na companhia muito ilustre do visconde em suas várias poses de bronze. Amou o carpinteiro Joel enquanto ele erguia mais uns pavilhões da instituição, casou-se na capela revestida por azulejos da Bélgica sob as vistas de São Luiz, o rei dito santo da França, perdeu a virgindade e dois dos três filhos sob aquele teto vetusto, levou a terceira filha, de nome Maria Luiza, ao altar, velou o marido e por fim, um belo dia, ficou velha. 

A juventude roubada

Laurentina de Jesus é rebento dessa gênese. Um fiapo de gente com a pele rasgada pela seca como o sertão baiano, de onde veio. “Meu plano foi uma coisa delicada que Deus me deu. Estava traçado aqui, nesta casa, o lugar onde eu seria feliz”, diz. “Fui parida em Amargosa, trabalhava na roça que nem homem. Um dia me levaram para o Rio de Janeiro e segui trabalhando sem ganhar um tostão. Fui para outra casa e também nunca me pagaram. Tinha até a idéia de me matar, mas então rezei e Deus me deu esta casa. Desde então, sou feliz.”
Laurentina não perde nem passeio nem festa, nenhum dos programas da casa. Tudo conheceu depois de velha, do sossego às areias da praia. Aos 84 anos, só não chegou ao Pão de Açúcar porque na hora lhe falhou coragem para saltar no bondinho. Dela tiraram quase tudo, até mesmo o cabelo, seu único enfeite, que uma patroa decepou para transformar em peruca. Nem sequer votou na vida, já que ficou desconhecida das letras e ninguém fez o favor de lhe contar que podia assinar com o dedo.
Sobre a cama mulheres como Laurentina acomodam os primeiros brinquedos de sua existência, a ironia dessas bonecas tão tardias que se atrasaram na meninice e só chegaram no fim da vida. Esse simulacro das filhas que não tiveram, ocupadas demais que estavam para criar as do senhor. “Criei os filhos e netos de meu patrão, quando entrei lá o menino era pequenininho. Quando saí já era casado. Tenho saudade dele, queria que viesse me visitar”, conta Amália Bernardina Gomes, aos 91 anos. “Tudo que era dinheirinho que eu ganhava dava para o patrão depositar na poupança. Quando já tinha um lucrinho gordo, ele me botou no carro e me deixou aqui. Meu sonho era vir para o asilo, não tenho ninguém por mim. Nem visita tenho, meu único parente é Deus.” Passa os dias, Amália, também ela sertaneja, a fantasiar a maternidade perdida. Toma conta de Denise, a boneca – também velha – que alguém lhe deu. “Oi, minha filha, mamãe está aqui!”, cumprimenta, toda ela desvelo, mulher que já nasceu surda-muda de queixas. “Graças a Deus não tenho o que dizer. Minha vida foi muito boa. Nasci para morrer.” 

O dia seguinte

Manoel Matias, de 86 anos, e Maria Socorro

Ela foi doméstica, ele empregado de armazém. Sem filhos, chegaram à casa há nove anos levados por sobrinhos. Pela primeira vez dormiriam separados, cada um no dormitório coletivo de seu sexo. Haviam dividido privações e sonhos não realizados. Resistiram porque se amavam. Maria morreu em maio, aos 94 anos. Manoel ainda espera
A casa anoitece antes do mundo, às 17 horas, a sopa anunciando o toque de recolher. O silêncio desaba e logo o portão de ferro se fecha. Em seu passo arrastado os moradores lentamente vão se recolhendo aos quartos para tecer suas colchas de solidão. Deitados em suas camas fingem dormir, essa longa insônia que é a velhice.
No escuro, sentada numa cadeira de balanço, poucos sabem, mas Maria de Lourdes Silva, de 64 anos, espera. Pegou para si a tarefa de acender as luzes dos jardins. Às 5 horas, na madrugada, estará no mesmo lugar. Desta vez para apagá-las. A lavadeira Lourdinha talvez não saiba da importância de sua missão, guardiã que é da continuidade da vida na casa dos velhos.
“Não se assuste”, tranqüiliza Noêmia. “De noite as enfermeiras entram a toda hora no quarto da gente. Mas é só para ver se estamos bem.” Ela foi instalada na casa depois de uma reunião com ata e tudo lavrada pelos sete filhos após concluírem que andava impossível. Alucinada pela solidão, chegou ao requinte de maquinar roteiros de terror para ganhar visitas e atenção. Como no dia em que ligou agonizante para avisar que havia sido agredida pela empregada. E lá estava ela estirada no chão com o peito ensangüentado de massa de tomate.
Antes de dormir, ainda convence uma boa alma a levá-la até o telefone. Com a lista nas mãos, liga para todos os filhos e mais alguns netos para lembrá-los pela enésima vez que está de mala pronta. “Não me conformo de ficar aqui, olhando para o nada”, esperneia. Depois, entra no apartamento, reclama que não tem mais nem a chave da porta e, em desconfiado silêncio, confere se sua fortuna continua a salvo debaixo do colchão. Não sabe que as notas verdinhas que garantiram seu poder em vida foram tiradas do brinquedo Banco Imobiliário do neto.
Protegidos em seus quartos, os moradores enganam a todos. Resistem. Deitado na cama, Paulo chega a chorar de riso. Abafa com gargalhadas as dores de uma vizinha que liga as horas por interlúdios de gemidos. Lembra-se das molecagens que fez na juventude. Depois, banhado em lágrimas, emenda um sonho no outro. Com sorte, tem “sonhos eróticos com a doutora Gisele, com a doutora Ana Lúcia, com a Soraia fisioterapeuta...”
Maria Prado só dorme com remédios. Todo dia se apronta para acordar em outro mundo. Absolutamente tranqüila: “Com 101 anos, chego à conclusão de que não tenho nada para me vangloriar, nada para me envergonhar”. Até hoje nada. Abre os olhos e lá está ela entre as mesmas paredes, com o jornal na porta. “Onde andará esse Bin Laden?”, investiga, então, sem nada mais interessante para fazer. “Pelo menos que eu me acabe antes do mundo!”
Em outro pavilhão, Vicente Amorim só apaga os olhos depois de conferir o pregão. “Não mando mais em meu dinheiro, mas não consigo dormir sem esperar o resultado da bolsa”, surpreende-se com ele mesmo. Rosa Bela vigia. Sobre a cama outra moradora mistura bemóis com gemidos. “Você percebeu o que ela faz?”, atormenta-se. “Faz a própria melodia. Canta uma canção de ninar para si mesma. Ouço de meu quarto e isso me bota quase maluca.” Rosa se ergue, estende as mãos no interlúdio do corredor deserto, os olhos queimam e ela canta como quem pirografa. Abafa a dor da outra com o som de um amor antigo. Depois submerge no quarto para emergir com o sol. Here is a new day for you and you take it and like it! (Eis um novo dia para você, pegue-o e goste). E imediatamente troca todos os móveis de lugar.
De costas para os companheiros, Noêmia empreende o caminho de volta. Por hora, venceu a queda-de-braço. Uma filha a resgatou. Atravessa o portão de ferro, a vida inteira espremida numa mala de mão.

Eliane Brum (texto) e Mirian Fichtner (fotos)

 Fonte: Revista Época

40 comentários:

Patricia disse...

Ao ler alguns trechos chego a sentir o cheiro de minha mãe, sabe aquele cheiro que só você sente, pois este é o meu cheiro, de infancia, de adolescencia e de adulta. Nunca vou deixar de sentir o cheiro de minha mãe. as vezes me deparo a refletir será que se não tivesse meu irmão a cuidar delas duas eu seria capaz? Ah! é impossível abandonar aqueles dois cheirinhos tão distintos, cheiro de mãe, cheiro de dinda, cheiro de tia, tive 3 mães e cada uma delas tem seu cheirinho, hoje a mais velhinha está no céu, mas neste momento sinto o seu cheiro e as outras duas vivas estão, mineirinhas da gema e com decendencia italiana que pessoinhas difíceis mas cheirosas. Neste exato momento daria tudo para poder te-las aqui comigo dentro de minha casa junto com meu filho e esposo. E na hora que mamãe não quizesse tomar banho eu a levaria e daria. e a dindinha dar uma voltinha na rua com ela de braço dado devagarzinho, mas só no quarteirão.
Oh! Meu Deus que saudade da minha infancia em que pudia sentir de perto o cheirinho da minhas tres maezinhas que tanto amo...
Hoje apenas na lembrança e sorte de ainda ter uma de 80 e a outra de 87 para qdo sentir falta do cheirinho correr lá e aromatizar a minha infancia e até mesmo voltar a ser criança.
Att
Patricia Gatti

Vilauba disse...

Ao ver sua pregação hoje, entrei no google e li toda a reportagem, sabe,hj tenho a certeza que estou no lugar certo, Deus quis assim,trabalho numa Casa Lar para idosos, costumo falar assim, pois asilo ou casa de repouso é frio demais, quem gostaria de repousar enquanto a vida corre pelas veias?Pude perceber que bem mais que um trabalho, tenho uma missão, cresci como ser humano " feliz aquele que ensina o que sabe e aprende o que ensina" Que troca!A cada terapia um aprendizado.A realidade dos nossos idosos é dura, cruel, morte social, de fato!Lembro-me da farmaceutica 72 anos , fidalga, delicada, olhos azuis profundos, distantes... deixada como um "presente" , e por favor não me devolvam - mencionou o parente ao deixa -la.Sentia- me frágil, suscetiveldiante de tal realidade quase me entreguei a tristeza, como trabalhar nesse lugar? Meu Deus!!! Deus, me pregara uma peça!Amor incondicional, aprendi! Cresci, e me fiz instrumento, TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE, além da Casa Lar, coordeno a Pastoral da Pessoa Idosa da nossa Paróquia, ano passado no 1° de Outubro fomos as ruas de nossa cidade na II Marcha dos Cabeças Brancas, idealizei esse movimento no resgate a cidadania dos idosos, mostrando pra sociedade que podemos reverter este estigma, há vida, esperaça,dignidade depois dos 60. Me chamo Vilauba e gostaria de deixar aqui o meu end vilaubaribeiro@yahoo.com.br para aqueles que quiserem partilhar comigo dessa experiência. Obrigado

Unknown disse...

Muito realista,eu com 54 anos já me imagino um dia sendo dispensado pelos meus dois filhos, sei que minhas noras não terão paciência em cuidar de uma idosa, pois sei que todo mundo que ficaa velho tem suas manias. Que o Senhor Deus me guarde e me der lucidez e movimentos ainda por muitos anos.

Estrela disse...

O que falar depois de ler esse texto....a verdade mexe com a gente. Hoje assisti pela TV a pregação e fiquei muito curiosa para ler o texto, o qual o Pe. Fábio havia falado...aqui estou eu com lágrimas escorrendo pela face por me encontrar com a verdade. Quando fiz o técnico de Enfermagem (não exerço a profissão)conheci uma casa de repouso "Recanto do Bem Viver", foi meu primeiro contato com pacientes assim chamados da terceira idade...aprendi muito com eles. No fundo o que eles querem e qualquer um de nós também quer, é amor; atenção, um pouco de riso...são pequenos gestos e cuidados que aliviam suas dores da alma...muitas das vezes carregadas em corpos esqueleticos, cheios de marcas de uma vida de luta e vitórias.
Obrigada pela indicação desse belo texto.
Abraços Juliana

KATIA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Regina disse...

Hoje, após a pregação do padre Fabio,fiquei anciosa para acessar o google. Agora acabei de ler as historias.Realmente algumas emocionam muito a gente.Lembrei o tempo todo dos meus pais que ainda estão vivos. Meu pai com 81 anos e minha mãe com 74.40 40 Quero ama-los ainda mais, quero compreende-los ainda mais. Por providencia divina ontem fui num velorio de um tio torto de 96 anos que morava num asilo há 40 anos.Ele fui um dos fundadores.No velorio só ouvia-se historias lindas sobre a vida dele. Ele marcou muito com sua vida simples. Obrigado padre Fábio de melo pela dica ok? Abraço. Regina Cèlia - contagem MG

KATIA disse...

Padre, o senhor tem razão ao dizer que não tem como ler esta reportagem e não se sensibilizar com a situação que se encontra os nossos idosos. E fico me perguntando, metidando na sua palestra hj, e os bastidores da vida dessas pessoas? Não tem valor?O mundo não pode ser cruel assim com quem tem muito a nos oferecer em ensinamentos e em amor ao proximo.Infelizmente não pude vivenciar a velhice de minha mãe que morreu qdo eu tinha 9 anos e pude saborear o sofrimento do meu pai enfermo com o cancer aos 66 anos e sendo derrortado pelo mesmo, mas cheio do amor dos filhos até o ultimo segundo de vida,retribuindo tudo aquilo que ele pode nos deu. Morreu nos braços meus,de meu irmão e de minha cunhada, louvo a Deus por isso.
Mas tenho 3 filhos ainda muito jovem na fase da adolescência e sempre procuro mostrar a eles estas reportagens e ao amor de Deus para conosco,pois o futuro são deles, e espero que eles não achem essas atitudes de limitar a vidas dos idosos,em simples maletas e em fotografias.
Ninguém merece ser ignorado nesse mundo,mesmo sabendo que infelizmente muitos deles,são tratados com mais dignidades por esses enfermeiros e médicos do que pelos filhos. Lamentável.Pedimos a Deus que nos ajude a não achar natural essas reações que, graças a Deus, ainda nos causam indignação;
Obrigada por nos presentear com essa reportagem e com sua palavras, e me atrevo a dizer como a moça da carta de hoje " Não desista de nós e nem de sua belissima missão ",pois o senhor faz a diferença em nossas vidas.

Anônimo disse...

Como gosto de ti, não nos entrega nada pronto sempre nos levando para a reflexão e ação. Quem tem ouvidos ouça já dizia Jesus, a todos é estendida a possibilidade de fazer.
Um abraço, Rosana Moriah.

Unknown disse...

A curiosidade me levou a ler a reportagem da Eliana e é realmente de uma delicadeza enorme a maneira como ela nos conta cada história passada naquele Lar. Obrigado Padre Fábio por nos ter dado a oportunidade de apreciarmos a excelente reportagem.
Maria Celeste

Unknown disse...

Assisti hoje a pregação do Pe.Fábio,onde falava sobre a reportagem de eliane Brun,acabei de ler e estou muito emocionada pois lembrei-me de meu pai que tem 84 anos,mora comigo e meu irmão caçula,desde que minha mãe faleceu em 2001 ele mora comigo,ás vezes não tenho muita paciência com ele mas jamais teria coragem de deixá-lo em uma casa de repouso,pois acho que temos de cuidar daquele que um dia cuidou de nós,e quando as coisa se tornam difíceis peço a Deus para me dar coragem para continuar.. um grande abraço.

Unknown disse...

Oi Pe.Fábio, adorei a forma que o senhor nos passou a mensagem hj na Canção Nova.
Tenho sogra(79 anos) e sogro de (82 anos), convivo com eles todos os dias, tenho a Graça de Deus de vê-los contando as mesmas histórias do passado, as alegres recordações e fico pensando depois de ler essa reportagem. O que seria deles se um dos filhos ou filha colocassem eles em um asilo?? com certeza morreria de saudades e tristeza.
Mas depois de ler tudo isso e amá-los , sei que jamais passaram por esses abrigos.
Mas uma vez o Senhor nos levou a refletir , obrigado por ser tão exato naquilo que precisamos...
Amo o seu trabalho e que Deus lhe dê muitas forças em seu Ministério tão abençoado.
Lúcia

MOCHIESSE disse...

Pe Fábio
Depois de assistir seu belissimo show em Resende fiquei curiosa coma reportagem que o senhor falou e ao le-la realmente me emocionei e questionei o que leva filhos a abandonarem pais em uma casa de repouso.Falta de caridade,carinho,amor?Acho que falta de Deus.Tive a graca de ter meuspaiscomigo até o dia em que Deus achou que eles deveriam ficar neste plano e os levou para junto deles e fico triste ao constatar que aqueles quepodem ter seus pais por mais tempo ao os querem.
Como sempre o senhor nos levou a refletir sobre a vida e nos mostrar o verdadeiro sentido da Palavra de Deus. Que Jesus nos de sempre a graca de o termos perto de nos com o seu ministerio maravilhoso e quelhe de forcas para continuar comsua missao evangelizadora

Unknown disse...

Tenho 28 anos e meus pais não sao tão idosos. Mainha e painho tem 67 e 77 anos respectivamente.Meu pai não foi o melhor e nem um exemplo de Pai.Mainha ah.... essa ai, sim, um exemplo de Mulher, de Mãe, Esposa,Filha,Amiga, Companheira,Avó....NUNCA,JAMAIS os abandonaria, apesar de, hoje, esta tão longe fisicamente.Me acho egoista, pois já pedi muito ao PAi que me tirasse do mundo antes deles pois acho que ficarei sem forças para sobreviver, acho que nada vai substituir a lacuna que eles irão deixar.
Forte abraço e que que o Pai junto com Nossa Senhora Aparecida fortaleça cada vez mais teu ministerio que apazigua os corações dos aflitos e ensina a como chegar e está mais próximo do Pai.

Jaqueline

Thais Helena disse...

Nossa, muito emocionante realmente o texto.

Lembro das tantas vezes eu aqui em casa e por preguiça não vou visitar minha vozinha querida que tem seus 71 anos e que mora na casa ao lado, que sempre me recebe com muito carinho, bom humor, boa vontade e muito amor.
com uma conversa gostosa sobre muitas e muitas histórias.

realmente um lindo presente de Deus que não soube aproveitar, até agora...

Anônimo disse...

AHHHHHH, QUERO UMA IDOSA PRA EU TOMAR CONTA, ADORO ESTAS IDOSAS , ESPERTAS , SÃO LINDAS, VAIDOSAS, CHEIROSAS, AH, MEU DEUS POR QUE LEVOU MINHA MÃEZINHA TÃO CEDO , AI QUE SAUDADE.

maga disse...

Padre Fábio!!
Essas histórias,me fizeram lembrar mais ainda da minha mãe, que morreu aos 77 anos em julho de 2006, mas sempre teve todo o cuidado , o amor e nosso carinho,pois nos ultimo 5 meses de vida ficou mais no hospital que em casa, e me fez lembrar uma vez que ela estava a 17 dias n hospital e quando chegou em casa,sabe que ela pediu p/ mim, ela queria deitar em meu colo, sentei perto dela e ela deitou em meu colo e eu afaguei os seus cabelos brancos.Depois disso chorei muito, de ver sua carência.Sinto muito a falta dela,,mas sei que tudo tem o tempo certo,,e ela viveu esse tempo.
Obrigada por tudo que nos passa,,amo muito o Sr..
abraços com carinho
MAGALI FORNAZARI

Unknown disse...

Ontem vi a palestra na CN,hoje corri pro computador p ver essa reportagem que o Pe.Fábio comentou na palestra,realmente é maravilhosa!Tenho pais idosos já,e não consigo imaginá-los longe de mim!
muito menos solitários num asilo!
Tudo isso que li me fez pensar mais ainda no sentimento de meus pais,e no sentimento que tenho por eles.e pensar que tbm chegarei a velhice um dia se Deus assim me permitir.Abraço padre,obrigado por nos falar assim e nos mostrar os caminhos do Pai!Fica c Deus!

Anônimo disse...

Padre esta reportagem como o senhor nos disse nos emociona muito e ao mesmo tempo nos convida a uma reflexao.Estava eu meu Marido a alguns dias atras conversando sobre nossos plano futuros.Somos casados a 18 anos, Deus nos presenteou somente com um filho - o Leonardo de 2 anos e 7 meses e estamos construindo uma outra casa emcima da nossa porque nossa casa quando foi construida nao teve muito projeto e gostaria de uma casa maior para receber visitas porque gosto muito de minha casa cheia e movimentada.Entao me surpreendi muito e ao mesmo tempo fiquei maravilhada com meu marido quando me disse que ele gostaria muito q/meus pais 75 e 73 anos,minha irma q/é mae solteira tem um filho lindo de 9 anos q/cuido como se fosse meu e meu irmao solteiro alcolatra morassem na nossa casa de baixo p/ que eu ficasse mais tranquila com eles mais perto de mim pois moro muito longe deles.Foi de uma generosidade imensa.Deus tem me dado muitas alegrias e paciencia p/aceitar viver um dia de cada vez.Eu pensei que ele alugaria a casa mas graças a Deus somos um casal catolico e estamos sempre a serviço de Deus e da Igreja.Ele não tem pai e sua mae morreu a 2 anos atras.Ela foi um perda enorme em nossas vidas pois a amavamos muito.Fomos comemorar nossos 18 anos de casados no Kairos do dia 28/02/2010 e voltamos renovados c/sua pregaçao e a do padre Fabricio.Temos muito carinho e respeito por voce.Sempre te acompanhamos eu e meu marido seja na cançao nova ou nos seus shows.No mundo de hoje onde o dinheiro, o poder falam mais alto temos q/nos abastecer das coisas de Deus em todos os momentos.Um abraço carinhoso.Continue firme no seu proposito de evangelizar.Rezo muito por voce!
Selma e Wanderley - Claudio/MG.

Cláudia Sorocaba disse...

Fico pensando o que passa na cabeça desses filhos, ao deixarem seus pais abandonados???
Será esse também o meu fim??Pq normalmente mãe que cria filho, como é o meu caso, fica só na velhice, a nora não aceita o cheiro da velha sogra...tem gente que acha que velho fede...qta ingratidão!!!!Tantos lindos e tristes dias vividos com vigor na juventude qdo o corpo permitia viver com mais vigor, para terminar assim, como um livro cheio de histórias para contar e na maioria das vezes histórias que foram derrotadas pelo tempo...tempo, como é complicado esse tempo, feliz algum tempo, triste outros tempos...o que será que DEUS pensa dos idosos? E JESUS se tivesse ficado velho como teria sido sua velhice?? Tempo...

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Padre, durante toda a reportagem eu lembrei dos meus avós maternos.Quase 70 anos de casados e o amor ainda prevalece entre eles. Quando minha avó adoece ele entra em desespero, não sai em momento algum do lado dela. Chorei no trecho em que se fala de Manoel e Maria, li a descrição dos meus avós.Nunca tive a oportunidade de conviver com meus avós paternos, então o único amor de avós que tenho é o deles. Uma reportagem de sensibilidade sem igual, adorei. Um grande abraço e que Deus o abençoe.

Unknown disse...

Padre Fábio,assisti sua pregação ontem na cn e hoje estava ansiosa em ler a reportagem, acabei de ler e está me fazendo refletir muito, pois meus pais são idosos, amo muito eles e nunca os abandonarei, já cuido de uma tia idosa acamada há mais de dois anos,no entanto acho que se chegar a velhice irei para uma casa de idosos, pois até hoje com 29 anos não me casei e acho que não me casarei, então só me restará um abrigo continue sua missão, pois a cada dia o senhor nos leva mais para Deus sua benção! Ana Albuquerque

Unknown disse...

tem que nascer mais pe Fabio no mundo,que homem grandioso
que pessoa corajosa que acredita no que fala,e convence,gente a ser gente..aaaaaaaaaaaaaaaaabbbbbbbbbbbbbbbbbbbbrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrsssssssssssssssoooooooooooooooooooooosssssssssssssssssss pe.Fabio Deus te amaaaaaaaaaaaaa muuuuuuuuuuuuutooooooooooooooooooooo.

Cláudia Sorocaba disse...

Voltei a ler a reportagem...vivo com minha mãe de 70 anos, amo a presença dela em minha vida, jamais a deixarei, isso prometi ao meu pai em seu leito de morte quando fazia 15 dias que ele estava em coma e os médicos queriam desligar os aparelhos, conversei com ele (pois acredito que a pessoa em estado de coma ainda tem alguma ligação com o mundo material) e lhe pedi para ele partir e que se a preocupação dele era a minha mãe, que ele partisse em paz, que eu prometeria cuidar dela, um dia depois ele partiu, depois de 45 dias internado, sendo cuidado por ótimos médicos. Somos em três filhos, não temos muitas posses, mas lutamos para ele sobreviver, mas já havia chegado sua hora, ele já havia cumprido honrosamente sua missão com seus 74 anos.Ele foi um Pai Herói, um Homem Guerreiro, dia 23 de março fará 5 anos que ele partiu a saudades cada dia aumenta mais, chega doer, por isso não me conformo como um filho pode "depositar" um pai ou uma mãe em um asílo e nunca mais ir vê-lo, não estou julgando ninguém, só estou questionando. Ficou tão difícil a vida sem meu pai, sem seu sorriso, sem suas brincadeiras, sem suas piadas, sem os seus momentos atrapalhados, sem seus trejeitos, sem sua cultura,que sdaudades!!Jamais colocaria meu pai em um asilo, assim como minha mãe não irá também, ficarei com ela até o fim, depois quero ir morar numa casinha modesta, espero que meu filho não me coloque em um asilo, tenho certeza que seria muito triste para mim...ainda é cedo para pensar nisso, preciso viver a vida, ainda tenho muito o que fazer!!
Padre Fábio, DEUS lhe pague por nos encaminhar a momentos de reflexão tão importantes, a missão do sr é linda e o sr está cumprindo maravilhosamente, basta ver o Kairós de ontem!!Precisamos rezar muito pelo sr, pedir a DEUS que o envolva com enorme escudo de PAZ e LUZ onde nenhuma maldade atinja o sr, pois o sr é uma das poucas sementes boas que ainda existe, é preciso cultivar essa semnte para que ela dê muitos frutos, consequentemente muitas sementes!!
Fique com DEUS Meu Anjo Salvador!!
Abraços de LUZ!!!

PeFabioMeDisse disse...

Obrigado pe Fabio,pela indicação.Parabéns Eliane,pela delicadeza e respeito com que fez essa matéria.
Eliane que tuas palavras cheguem aos parentes desses velhos.E que sirvam para reflexão para outros tantos que tenham pensamento tão pequeno e mesquinho em relação ao idoso.
Que Deus te ilumine sempre Eliane,para que continues com esse " olhar que faz a diferença "
Pe Fabio que Deus também continue te iluminando.que ELE proteja teu Sacerdócio.
E que a cada "pérola" que encontrar faça isso; divida conosco!
sua benção.
bj gaúcho no teu coração. helenna

Rosemary disse...

Estive na canção nova e procurei por essa reportagem , maravilhosa, emocionante.
Muito Obrigao!
Te amamos.
Rose

Unknown disse...

Quando leio tudo isso, o que posso imaginar, são as próximas páginas ,e que podemos estar nelas. e desde já tento escrever melhor um pouco desta história.

geovana disse...

Pe.Fábio,também gostei muito da matéria.Tenho uma avó de 80 anos,e a família precisa ler essa matéria urgente.Obrigada pelo seu carinho.Tenho certeza,que depois de ler,muitas coisas irão mudar para melhor.Abraços de Geovana,Poços de Caldas.

Unknown disse...

francisco fabio
pe. fabio gostei muito das dessa materias hoje em dia algumas pessoa tem um pensamento que idosos não podem mais fazer nada e que ja esta velho para viver a vida mais essas pessoa que pensam dessa forma são totalmente ignorantes porque a pessoa idosa tem capacidade de ser melhor do que uma pessoa mais nova, porque o idoso ja viveu e vive e cada dia que passa ele aprende coisas novas para mostrar aos mais novos como eles sabem fazer coisas bem feitas e como eles são capazes de viver mais e mais

Unknown disse...

Cada velho que morre é um livro de histórias que se fecha!! E nos bastidores de suas vidas, faltou reconhecimento dos seus. Muitos solteiros, ou sem filhos, mas e aqueles que tiveram filhos? Quantas mães não passaram noites acordadas cuidando com zêlo de seus rebentos, tão pequeninos e necessitados de seus cuidados?! E quantos anos a fio não passou a lavar, passar, alimentar, até que estes seguissem seus destinos. Que egoísmo infinito este nosso! Onde está a paciência para retribuir o que nos foi dado com tanto amor e renúncia? Triste!! Reflitamos e cheguemos a sublime conclusão, de que cada cama, cada casa, cada apartamento de um asilo será substituído um dia, e por nós!!

soldeminas disse...

Pe.Fábio, lendo esses textos de Eliane me lembrei da musica: Hoje estou velho
Meus cabelos branqueados
O meu corpo está surrado
Minhas mãos nem mexem mais
Uso bengala
Sei que dou muito trabalho
Sei que às vezes atrapalho
Meus filhos até demais...
A realidade está aí, nua e crua pra quem ver. O “ser” humano,esqueceu de onde veio, perdeu-se em meio a banalidade mundana e descarta sua própria carne...È triste ver filhos tão cruéis,coração de fel dizendo que ama..Que quer casar-se procriar etc.Para quê? Para fazer sofrer um pedaço da sua história que vergonhosamente deixou para trás... Que pena só nos esta lamentar tanta crueldade.

Um abraço
soldeminas.

Rita koga disse...

Rita Koga diz...
Pe Fábio de Melo como dizia JESUS quem tem ouvido ouça e eu agradeço a DEUS pela tua vida e peço a ELE q o senhor continue levando a Palavra de DEUS a tds pois,eu estou aki no Japão já há quase 5anos e é através da Canção Nova e do Pe Fábio de melo q DEUS chega até mim...DEUS te ilumine e abençoe sempre.
Fike na Paz de DEUS e no AMOR DE MARIA.

Perla Scaglia disse...

Padre Fábio, sua benção!
Muito obrigada pelas mensagens e pela maneira com que nos ensina. Meus pais são novos. Mas meui avô tem 90 anos e minha avó 87. Ele só tem alzheimer e não anda mais. Minha avó tem vários problemas de saúde e acabamos e descobrir nela um câncer de pulmão. Graças à Deus nossa família é muito unida nesse sentido e os deois são muito bem amparados. Mas se refletirmos bem, sempre podemos nos dedicar mais.
Agradeço a Deus pela vida vida deles, se sou o que sou hj, devo isso à eles.Foram ele que me ensinaram a rezar.
Agora sei que não os terei muito tempo comigo, mas sei que são duas pessoas que viveram com dignidade e estão morrendo com dignidade.

Obrigada, rezo sempre por seu ministério. Que Deus o ilumine sempre.

Unknown disse...

Acabei de ler a reportagem
Estou em lagrimas é muito triste saber
que isso acontece jamais vou abandonar meus
pais amoooo muito.
Padre o Sr. é uma benção nas nossas vidas
Thais.MG

monze disse...

Sua benção Padre!

É muito triste saber e ver as atrocidades que fazem com nossos velhinhos e mais não sabendo que todos nós iremos chegar à 3ª idade.Pois eu sinto muito falta de meus avós,o velhinho faleceu aos 96 anos,mais foi em casa, enão por falta de cuidado,foi chegada a sua hora.
Que tenha piedade de cada um daqueles que abandona os seus no vastidão de ilusões.Amei a reportagem e mais ainda a sua palestra que fala:TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTELECE!...

guiomar disse...

Quando comecei ler o relato de Doraeu não concegui terminar, Porque eu já sabia tudo que vinha pela frente. Eeu estava certa. Aquela mulher de apenas 89 anos, morava em um casarão. Tudo bem que ela morava sosinha, mais era feliz do seu jeito mais era. Resolveram coloca-la em um asilo, e o que ela pediu, que levasse seus bebelôs, sus cadeirs de balançoos retratos de seus netos. Olhe gente cuide de seus pais com muito carinh, amor dedicação, pois foi assim que eles nos cuiou, e lembrem-se de que um dia vamos ficar como eles.

guiomar disse...

As realidades da vida de alguns idosos com suas idades avançadassão levados para o asilo, uns âs veses vão porque são obrigados a ir outros poque querem, para não ficarem sosinhos em casa. Então eu me percunto, o que leva aos filhos filhas a levarem seus pais para o asilo, se todos têm quem cuide deles. Os casais que ainda se amam, têm que ficar em dormitórios separados. O que eu acho mais pesadopara os idosos é que eles lutaram com tanta dificldsde para nos criar mesmo sem ter condiçoes financeiras e mesmo lutaram para nos criar com dignidade.

guiomar disse...

Não esiste coisa mais linda do que um casal de idosos viverem se amando, foi o caso de Gabriela svozil e Adair Boemo 68 anos. Ambos não têm filhog,solteiros, ele bancário, se conheceram no asilo se apaixonáram mais tiveram que ficarem em lugares separados mesmo assim eram felises.

guiomar disse...

quando estamos em nossa juventudefazendo tudo que queremos, sonhar em ter uma vida tranquila, cheia de paz, felicidade amor, com nossos filhos, netos, nosso companheiro, mais derrrepente todos esses sonhos dece ralo a baixo, quando derrepente somos colocados em um lugar onde não conhecemos ninguem, e somos estranhos para todos. Todos nossos sonhos, onde ficaram? E nossa liberdade, nossos costumes, nossas manias, nossos ábitos. Se acabam a partir do dia em que fomos tirados de nossas casas.

Servimos Ltda disse...

isso nos faz refletir o quanto os idosos devem ser bem cuidados, afinal deram a vida pela familia e quando mi precisam se tornam peso e sao descartados para um asilo.

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